sexta-feira, 22 de abril de 2011

A AJUDA DO CÉU

Faze tua parte, que o céu te ajudará.

Depender da Providência. Entregar-se por completo à certeza de que o Alto preencherá as necessidades do servidor. Atitudes de quem confia na fé como instrumento de relação da criatura com o Criador.

Aconteceu com Teresa, aconteceu com Chico Xavier.

Em Calcutá, todos os dias a Instituição das Missionárias dá alimento para nove mil pessoas. Certa vez, uma das irmãs chegou até a madre e lhe disse:

- Senhora, nada temos. Absolutamente nada.

Teresa não teve palavras para dar alguma resposta. Duas horas depois, porém, por volta das nove da manhã, um caminhão carregado de pães parou na porta da casa. Naquele dia, as escolas da cidade estavam fechadas. Resolveram, então, despejar milhares de pães por cima dos muros. Foi essa doação espontânea que alimentou os pobres durante dois dias.

Chico terminara de atender a milhares de pessoas, junto ao abacateiro, para onde se deslocava, nos fins de semana, a fim de conversar com os que vinham e fazer donativos a famílias carentes.

Acabara de voltar para casa, quando chegou um grupo de pessoas que queriam vê-lo, e já estavam viajando havia horas.

Preocupado por não saber o que oferecer aos visitantes, viu que logo atrás do ônibus estacionara um caminhão e o motorista informou que era um carregamento de panetones, doados anonimamente, e que poderiam ser usados por Chico da forma que ele bem quisesse.

Os produtos não só serviram para recepcionar os visitantes de última hora, como também puderam ser distribuídos aos pobres de alguns bairros de Uberaba, que têm em Chico um verdadeiro irmão, sinceramente interessado em ajudar o próximo.

A fé, segundo afirmou Morris West, é um salto no escuro para os braços de Deus! .

E é refletindo sobre a vida dos missionários dedicados à vivência do amor à humanidade, que se torna possível entender a imensidão desse projetar-se, rumo às fontes inesgotáveis da Providência.

Essa é a legítima escuridão que se faz clara nos caminhos de quem chora. Mas, antes dela aportar na vida do sofredor, foi preciso existir a coragem daquele que se dispôs a busca-la, correndo todos os perigos de quem se arrisca a penetrar nos domínios do que ainda não conhece.

Foi necessário confiança, porque, sem ela, o viajante do bem não teria forças para encontrar os mananciais de Deus.

Foi preciso empenho, desse que começa a ser realizado bem antes da viagem, através do exercício do querer bem, do desejar o bem, sempre.

Foi decisiva a capacidade de entrega, para que o servidor se despojasse dos fardos das posses efêmeras, a fim de trazer o alforje do amor carregado de boas novas aos doentes da alma.

Cada vez que o trabalhador vê-se cara a cara com a falta de recursos para realizar a tarefa nobre, pode recorrer a essa busca transcendental. A prece é a ponte. A fé é o caminho. E os seres são os Instrumentos de Deus para a resposta. Ela pode vir de caminhão, ou através de uma boa idéia, ou junto à frustração de não recebe-la quando a gente quer, mas sim quando for necessária , segundo a lógica do Alto.

Em quaisquer circunstâncias é fundamental não esquecer as prioridades que definem o desejo de evoluir. Servir porque se aprendeu a amar o serviço, durante sua própria prática: desejar imensamente beneficiar o próximo, descobrir-se a si mesmo enquanto se trabalha.

Para os dois missionários citados, instrumentos de Deus na Terra, o esquecimento deliberado do outro é o maior problema que assola as relações humanas no planeta. Madre Teresa declara que a pior doença de hoje não é a lepra, ou a Aids. É não ser desejado, é ser deixado de lado, é ser esquecido.

Para Chico, o maior flagelo é o homem preocupar-se tanto com as coisas particulares que passa a não ter tempo para o Cristo solitário, que se manifesta em qualquer pessoa necessitada, seja ou não nosso familiar, que esteja precisando de nosso amparo.

O hábito de servir em nome do Amor traz experiências notáveis a quem se dispõe, inclusive, a sofrer para ver o bem sobrepujando os desastres causados pelos defeitos humanos. Ao homem é pedido apenas que faça a sua parte, para que o Céu, que significa a concentração de todas as forças dedicadas à Paz, possa ajudar como for preciso.

Carlos Augusto Abranches

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